A Vida Sangra

A vida sangra...
Quando o chumbo fere a carne inocente que por ser negra sente o sangue escorrer.
Quando o chumbo atravessa as paredes e deixa no chão quem sorridente preparava o pão nosso de cada dia.

A vida sangra...
Quando o que era para ser prazer se transforma em tormento,
Quando as desculpas se tornam inúteis,
Quando o tapete da cozinha já não justifica e o chão molhado do banheiro já não convence.

A vida sangra...
Quando o povo é golpeado, quando tem seu grito silenciado por quem deveria ser seu porta voz.
A vida sangra também quando somos agredidos apenas por lutar pela liberdade há tempos almejada.

A vida sangra...
Quando não posso alimentar meu povo, mas como uma mãe desalentada que chora ao ver os seus padecerem de fome, sede e frio ainda encontra forças para lutar, sinto-me disposta a fazê-lo por todos nós.

A vida sangra...
Quando não se pode ser quem é.
Quando às sombras precisa-se andar porque falsos moralistas ainda não aceitam o livre arbítrio que nos é dado por direito.

A vida sangra...
Quando a suposta ’’fé’’ é usada com tirania quando quem deveria plantar amor, semeia terror e aniquila em massa. Agindo indignamente, tentando macular o nome do Deus do amor e da justiça que faz brotar a esperança e a verdadeira fé nos corações que ainda resistem em lutar.

A vida sangra. Sim, a vida sangra.
E mesmo feridos, precisamos levantar e seguir na luta até essa hemorragia estancar.

Força e Resistência.

Fomos vendidas,
Violentadas,
Discriminadas
Prostituídas.

Carne barata,
Desvalorizada
Suja
Branca. Negra.

Bruxas
Incendi(árias)adas
Mulheres cansadas - da opressão
Unidas num abraço

Uma luta a cada passo
A cada conquista mais uma de nós é salva.
Somos netas daquelas que não foram queimadas.
Somos aquelas que não podem ser silenciadas.

Inrotulados

Seja e deixe ser
Ame e deixe amar
Ouça e deixe ouvir
Sinta e deixe sentir
Viva e deixe viver
Não se exija o rótulo
Simplesmente deixe Livre!

Somos Culpa e Solução.

Apesar do caos,
Há esperança sim!
Apesar do lixão
Há uma mentira aí!
Apesar da corrupção
Há mudança aqui!
Apesar da confusão
Há quietude sim!
Apesar do descaso
Há Amor ali.
Apesar da incredulidade
Há Fé em mim!
Apesar da prisão
Há liberdade enfim!
Apesar da morte
Há Vida, sim!

Briga de Ego

Digladiam as torres,
Cada vez mais altas, violentas,
Inescrupulosas e inertes.
Criadas para aprisionar, sufocam a Vida e o Amor.
Que padece fraco e sem cor
Enquanto inocentemente sorri
Agradecendo aos magnatas que lhe desejam uma falsa Boa Viagem.


Procrastinante

Deixei o café pra fazer
Um livro pra continuar a ler
E a camisa pra lavar.

Deixei o almoço pelo jantar
O sapato no terraço
E a TV ligada na sala de estar.

Deixei o cuscuz na panela desligada
Fiz o café e não deu em nada
Ele esfriou porque preferi me deitar.

Acordei com fome, levantei de súbito
Bati a cabeça na janela, me senti inútil
Olhei a bagunça e pensei em arrumar
Mas deixei pra depois, segui a procrastinar.

Onde a morte reinaria.

A dor é necessária e isso é um fato.
Com a dor aprendemos
a apreciar mais intensamente as delícias da vida.
Aprendemos a Amar
Porque cansamos da solidão.
Aprendemos a Sorrir
Porque cansamos das lágrimas
Mesmo que elas sejam
Portas de saída para nossos temores.
Aprendemos a Cantar
Porque cansamos do sufoco do silêncio.
Aprendemos a Dançar
Porque precisamos nos libertar do cotidiano que nos aprisiona.
Vemos a Esperança renascer
Onde o desespero parecia estar.
Vemos o Sorriso surgir
Nos rostos onde as lágrimas deveriam banhar
Vemos o Amor se renovar
Onde o individualismo poderia imperar.
Vemos a árdua luta pela vida
Onde a morte poderia reinar.